quarta-feira, 22 de junho de 2011

Reflexão: Trecho do Livro "O Futuro da Humanidade"

Durante uma conversa com seu amigo Falcão, Marco Polo mostrou um ar de intelectual, virou-se orgulhosamente para seu amigo e disse:
- Falcão, Deus não existe. Ele é uma invenção espetacular do cérebro humano para suportar as limitações da vida. Desculpe-me, mas para mim, a ciência é o deus do ser humano.
Numa reação surpreendente, Falcão se levantou. Subiu em cima do banco da praça e começou a chamar aos gritos todos que ali passavam. Com gestos histriônicos, bradava:
- Venham! Aproximem-se! Vou mostrar-lhes Deus!
Num instante, reuniu um grupo. Marco Polo ficou apavorado. Nunca vira Falcão reagir assim. Tentava acalmá-lo, sem êxito. Ele continuava gritando:
- Deus está aqui! Acreditem! Vocês ficarão perplexos ao vê-lo.
Marco Polo achava que Falcão entrara num repentino surto psicótico, estava tendo uma alucinação. Procurava ansiosamente pegar em seu braço para que ele se sentasse. De repente, Falcão silenciou. Apontou as duas mãos para Marco Polo e disse aos altos brados:
- Eis Deus aqui em carne e osso!
Marco Polo ficou assustado. Um burburinho reinou entre os ouvintes.
- Acreditem! Este jovem é Deus! Por que lhes afirmo isso? Porque ele acabou de me dizer que Deus não existe, que é um mero fruto do nosso cérebro! Vejam só! Se este jovem não conheceu os inumeráveis fenômenos dos tempos passados, se ele nunca percorreu os bilhões de galáxias com seus trilhões de segredos, se ele não desvendou como ele mesmo consegue entrar em seu cérebro e construir seus complexos pensamentos, e, apesar de todas essas limitações, ele afirma que Deus não existe, a conclusão a que cheguei, meus amigos, é que esse jovem tem de ser Deus. Pois só Deus pode ter tal convicção!
A multidão ficou boquiaberta. O discurso do indigente era tão inteligente que esfacelou não apenas a soberba de Marco Polo, mas o orgulho das pessoas que o ouviram. O jovem amigo ficou vermelho e pasmo. Falcão desceu do banco e sentou-se. Desembrulhou um sanduíche e começou a degustá-lo. Com a boca cheia, falou para Marco Polo:
- Sabe que sabor tem este sanduíche?
Marco Polo, envergonhado, meneou a cabeça dizendo que não. Falcão prosseguiu:
- Se você não tem segurança para falar de algo tão próximo e visível, não fale convictamente sobre algo tão distante e intangível. Não é sensato.

O Futuro da Humanidade - Augusto Curry

0 comentários: